segunda-feira, 13 de maio de 2013

Perturbação espiritual

Parte Segunda: Do Mundo Espírita ou Mundo dos Espíritos - Capítulo 3: Da Volta à Vida Espiritual

Obreiros da Vida Eterna: capa antiga (esq.) e a atual
No post anterior, usei um trecho do livro Obreiros da Vida Eterna, psicografado por Chico Xavier, no qual o espírito André Luiz conta o trabalho feito pelos bons espíritos para ajudar no desencarne de quatro pessoas. Tenho que retomar essa obra neste post... não é por falta de livros que nos esclareçam, mas é porque esses exemplos citados e estudados por André Luiz são simplesmente insubstituíveis (quer dizer, na minha opinião de estudante do tema!!!)

Como este intertítulo de O Livro dos Espíritos tem apenas 3 questões, vou colocar alguns trecho de Obreiros da Vida Eterna para ilustrar as explicações dadas a Kardec pelos espíritos mentores.

Na questão sobre a consciência que o espírito tem ao deixar o corpo (nº 163), lembro de um caso observado por André Luiz, quando ele estava em um cemitério, no capítulo 15, Aprendendo sempre:

Figura do Projeto Imagem
Impressionado com os soluços que ouvia em sepulcro próximo, fui irresistivelmente levado a fazer uma observação direta. Sentada sobre a terra fofa, Infeliz mulher desencarnada, aparentando trinta e seis anos, aproximadamente, mergulhava a cabeça nas mãos, lastimando­se em
tom comovedor. Compadecido, toquei-­lhe a espádua e interroguei
— Que sente, minha irmã?
— Que sinto? —  gritou  ela, fixando em mim grandes olhos de louca —  Não sabe? Oh! O senhor chama­-me irmã... Quem sabe me auxiliará para que minha consciência torne a si mesma? Se é possível, ajude-­me, por piedade!  Não sei diferençar  o real do ilusório... Conduziram-­me à casa de saúde e entrei neste pesadelo que o senhor está vendo. Tentava erguer­-se, debalde, e implorava, estendendo-­me as mãos: —  Cavalheiro, preciso regressar!  Conduza-­me, por favor, à minha residência! Preciso retornar ao meu esposo e ao meu filhinho!... Se este pesadelo se prolongar, sou capaz de morrer!... Acorde-­me, acorde-­me!...
— Pobre criatura! — exclamei, distraído de toda a curiosidade, em face da compaixão que o triste quadro provocava — Ignora que seu corpo voltou ao leito de cinzas! Não poderá ser útil ao esposo e ao filhinho, em semelhantes condições de desespero.
Olhou-­me, angustiada, como a desfazer-­se em ataque de revolta inútil. Mas, antes que explodisse em rugidos de dor, acrescentei:
— Já orou, minha amiga? Já se lembrou da Providência Divina?
—  Quero um médico, depressa!  Só ouço padres! —  bradou  irritadiça —  Não posso morrer... Despertem-­me! Despertem-­me!...
— Jesus é nosso Médico Infalível — tornei — e indico-­lhe a oração como remédio providencial para que Ele a assista e cure. A infeliz, entretanto, parecia distanciada de qualquer noção de espiritualidade. Tentando agarrar-­me com as mãos cheias de manchas estranhas, embora não me alcançasse, gritou estentoricamente:
—  Chamem meu  marido!  Não suporto mais!  Estou  apodrecendo!... Oh!  Quem me despertará?
[...]
Fitei a infeliz e expus meu propósito de auxiliá-­la.
—  É inútil —  esclareceu  o prestimoso guarda, equilibrado nos conhecimentos de justiça e seguro na prática, pelo convívio diário com a dor —, nossa desventurada irmã permanece sob alta desordem emocional. Completamente louca. Viveu trinta e poucos anos na carne, absolutamente distraída dos problemas espirituais que nos dizem respeito. Gozou, à saciedade, na taça da vida física. Após feliz casamento, realizado sem qualquer preparo de ordem moral, contraiu gravidez, situação esta que lhe mereceu  menosprezo  integral. Comparava o fenômeno  orgânico em que se encontrava a ocorrências comuns, e, acentuando extravagâncias, por demonstrar falsa superioridade, precipitou-­se em condições fatais. Chamada ao testemunho edificante da abelha operosa, na colméia do lar, preferiu a posição da borboleta volúvel, sequiosa de novidades efêmeras, O resultado foi funesto. Findo o  parto difícil, sobrevieram infecções e febre maligna, aniquilando-­lhe o organismo. Soubemos que, nos últimos instantes, os vagidos do filhinho tenro despertaram-­lhe os instintos de mãe e a infortunada combateu ferozmente com a morte, mas foi tarde. Jungida aos despojos por conveniência dela própria, tem primado aqui pela inconformação. Vários amigos visitadores, em custosa tarefa de benefício aos recém­-desencarnados, têm vindo à necrópole, tentando libertá­-la. A pobrezinha, porém, após atravessar existências de sólido materialismo, não sabe assumir a menor  atitude favorável ao estado receptivo do auxilio superior. Exige que o cadáver se reavive e supõe-­se em atroz pesadelo, quando nada mais faz senão agravar  a desesperação.

Seguindo o Livro dos Espíritos, na questão 164 fica o esclarecimento sobre os graus de perturbação espiritual. Neste trecho, André Luiz descreve as condições de dois espíritos que desencarnaram há pouco tempo e estão em recuperação na Casa Transitória (capítulo 17, Rogativa singular):

Enquanto Dimas se restaurava paulatinamente, Fábio cobrava forças de modo  notavelmente rápido. Os longos e difíceis exercícios de espiritualidade superior, levados a efeito na Crosta, frutificavam, agora, em bênçãos de serenidade e compreensão. Ambos repousavam, na Casa Transitória, amparados pela simpatia geral da Instituição que a Irmã Zenóbia dirigia. Ao mesmo tempo, prosseguíamos em constante cuidado, junto aos demais amigos, principalmente ao pé de Cavalcante, cuja situação orgânica piorava sempre, nas vizinhanças do fim.

Dimas, com o exemplo de Fábio, criara novo ânimo. Reagia, com mais calor, perante as exigências da família terrena e consolidava a serenidade própria, com a precisa eficiência. O ex­-tuberculoso [Fábio], iluminado e feliz, notava que outros horizontes se lhe abriam ao espírito sensível e bondoso. Podia levantar-­se à vontade, transitar nas diversas secções em que se subdividiam os trabalhos do instituto e dava gosto vê-­lo interessado nos estudos referentes aos planos elevados do Universo sem fim. Experimentava tranqüilidade. Não era um gênio das alturas, não completara suas necessidades de sabedoria e amor; entretanto, era servo distinto, em posição invejável pelos débitos pagos e pela venturosa possibilidade de prosseguir a caminho de altos e gloriosos cumes do conhecimento. A Irmã Zenóbia dava-­se ao  prazer de ouvi-­lo, nos rápidos minutos de lazer, e, freqüentemente, manifestava a Jerônimo suas agradáveis impressões a respeito dele.

Mas acredito que a leitura de todos os exemplos registrados no post mostram bem essa diferença da perturbação que se dá, de espírito para espírito. Afinal, cada um de nós têm graus diferentes de compreensão, evolução, merecimento...

E a última questão é sobre a duração da perturbação e se o conhecimento do Espiritismo tem alguma influência sobre esse estado da alma. Na obra que estamos analisando é o próprio instrutor, o assistente Jerônimo, quem responde:

Figura do Projeto Imagem
[...] em verdade, mostrava-­se Dimas em lastimável abatimento. Apesar da fé que lhe aquecia o espírito, as saudades do lar infundiam-­lhe inexprimível angústia. Às vezes, finda a conversação serena em que se revelava calmo e seguro nas palavras, punha-­se a gemer doridamente, chamando a esposa e os filhos, inquieto. Em tais momentos, tornava aos sintomas da moléstia que lhe vitimara o corpo denso e, com dificuldade, conseguíamos subtraí­-lo  à estranha psicose, fazendo-­o regressar  à posição normal. Tentava desvencilhar-­se de nossa influência amiga, como se houvera enlouquecido repentinamente, no  propósito de fugir sem rumo certo. Gritava, gesticulava, afligia-­se, como sonâmbulo inconsciente.

Não pude dissimular  a surpresa que me assaltou  diante da ocorrência. Se estivéssemos tratando com criatura alheia aos serviços da espiritualidade superior, compreensível seria o quadro que se desenrolava aos nossos olhos; mas Dimas fora instrumento dedicado do Espiritismo evangélico, consagrara a existência às benditas realizações da consoladora doutrina do túmulo vazio pela vida eterna. De antemão, sabia na esfera carnal que seria submetido às lições da morte e que não lhe faltariam ricas possibilidades de continuar junto da parentela, já dele separada, aparentemente, segundo  o simples ponto de vista material. Porque semelhantes distúrbios? Não  merecera ele excepcional atenção de nossos superiores hierárquicos?

Vali-­me de momento adequado e expus ao nosso dirigente as indagações que me absorviam o raciocínio. Sem qualquer nota admirativa, Jerônimo respondeu­  me, bem humorado:
— Você deve saber, André, que cada qual de nós é, por si mesmo, todo um mundo. Esclarecimentos e consolações são dádivas de Deus, Nosso Pai, mas convicções e realizações constituem obra nossa. Cada servidor tem a escala própria de edificações, na tábua de valores imortais. A assembléia de aprendizes receberá a mesma bagagem de ensinamentos, de modo  geral, organizada para todos os indivíduos que a integram. Diferenciam-­se, porém, os alunos, na série do  aproveitamento particular, O mérito não é patrimônio comum, embora seja a glória do cume, a desafiar todos os caminheiros da vida para a suprema elevação. Dimas foi destacado discípulo do Evangelho, principalmente no  setor de assistência e difusão, mas, quanto a si mesmo, não fez aproveitamento integral das lições recebidas. Espalhou as sementes da luz e da verdade, dedicou-­se largamente à causa do bem, merecendo, por isso mesmo, socorro especialíssimo. Contudo, no campo  particular, não se preparou  suficientemente. Qual ocorre à maioria dos homens, prendeu­-se demasiadamente às teias domésticas, sem maior entendimento. Conferiu  excessivo carinho à roda familiar, sem noção de eqüidade, no caminho terrestre. Certamente, sob o ponto de vista humano, consagrou-­se o necessário à companheira e aos rebentos do lar; mas, se lhes prodigalizou muita ternura, não lhes proporcionou todo o  esclarecimento de que dispunha, libertando-­os da esfera pesada de incompreensão. E agora, muito naturalmente, sofre-­lhes o assédio. A inquietude dos parentes atinge-­o, através dos fios invisíveis da sintonia magnética.
Figura do Projeto Imagem

Sorriu, benévolo e continuou:
— Nosso irmão, inegavelmente, fez por merecer o auxilio de nosso plano, pois conseguiu  enfileirar amigos prestigiosos que lhe dedicam valiosos serviços intercessórios, mas não se preparou, interiormente, considerando-­se as necessidades do desapego  construtivo. Gastará, desse modo, alguns dias para edificar  a resistência

O ensinamento significava muito para mim, que via tão dedicado servidor, cercado da mais honrosa consideração, por parte das autoridades de nosso plano, em porfiada luta consigo mesmo para restaurar seu próprio equilíbrio. E conclui, mais uma vez, que o  amor pode improvisar infinitos recursos de assistência e carinho, acordando faculdades superiores do Espírito, mas que a lei divina é sempre a mesma para todos. O obséquio é ofício sublime, no culto ativo da cooperação fraterna; todavia, cada homem, por si, elevar-­se-­á ao céu ou descerá aos Infernos transitórios, em obediência às disposições mentais em que se prende.

Em resposta a esta mesma pergunta, também quero deixar um trecho do livro que fala sobre um outro caso de desencarnação que estava sendo acompanhado pelo grupo:

Transcorridos escassos minutos, ganhávamos o pórtico de notável, simples e confortável edifício, em que se asilavam numerosas criancinhas, em nome de Jesus. Tratava-­se de louvável instituição espiritista-­cristã, onde se sediava compacta legião de trabalhadores de nosso plano. Bondoso ancião recebeu-­nos afavelmente. Reconheci­o, jubiloso. Achava­  se, ali, Bezerra de Menezes. o dedicado irmão dos que sofrem. Abraçou­-nos, um a um, com espontânea jovialidade. Ouviu as explicações de Jerônimo, com interesse, e falou, sorridente:
— Já esperávamos a comissão. Felizmente, porém, nossa querida Adelaide não dará trabalho. O ministério mediúnico, o serviço incessante em benefício dos enfermos, o  amparo materno aos órfãos nesta casa de paz, aliados aos profundos desgostos e duras pedradas que constituem abençoado ônus das missões do bem, prepararam-­lhe a alma para esta hora... 

Figura do Projeto Imagem
Ele mesmo tomou­-nos a dianteira, conduzindo-­nos a compartimento  modesto, onde a médium repousava. Na câmara solitária, não se via nenhum irmão encarnado; contudo, duas
jovens cercadas de prateada luz permaneciam ali, acariciando­a. Acercamo-­nos da enferma, respeitosamente. Seus cabelos grisalhos
semelhavam-­se a formosos fios de neve. Indicando-­a, falou Bezerra, contente:
— Adelaide sempre foi leal discípula do Mestre dos Mestres. Apesar das dificuldades, dos espinhos e aflições, perseverou até ao fim.
A digna senhora, após olhar demoradamente delicados ramos de rosas que lhe ornavam o quarto, entrou em oração. De sua mente equilibrada, emanavam raios brilhantes. Não nos enxergou ao seu lado, exceção do devotado Bezerra de Menezes, a quem se unia por sublimes cadeias do coração. Ele saudou-­a, afável e bondoso, endereçando-­lhe palavras reconfortantes e carinhosas.
— Sei que é o termo da jornada, meu venerável amigo — disse a médium, em tom comovedor —, e estou pronta. Desde muitos anos, rogo ao Divino Senhor  me revele o caminho. Não desejo adotar outros desígnios que não pertençam a Ele, nosso Salvador. Todavia... Não pôde continuar. Emoção profunda estrangulara-­lhe a voz e, logo após a reticência dolorida, copioso pranto começou a brotar-­lhe dos olhos encovados.
[...]
A denodada batalhadora, agora liberta, esquivou­-se gentilmente ao convite para a partida imediata. Esperou  a inumação dos despojos, consolando amigos e recebendo consolações. Depois de orar, fervorosamente, no último pouso das células exaustas, agradecendo-­lhes o  precioso  concurso nos abençoados anos de permanência na Crosta, Adelaide, serena e confiante, cercada de numerosos Amigos, partiu, em nossa companhia, a caminho da Casa Transitória, ponto de referência sentimental da grande caravana afetiva...


Com todos esses exemplos dados por André Luiz, fica mais fácil compreender, não é mesmo? Para finalizar, quero dizer que as figuras produzidas pelo Projeto Imagem são maravilhosas. Para quem não conhece, visite o site deles: http://www.projetoimagem.com.br. Retirei boa parte das figuras desse site e também de uma palestra no You Tube, que trata do livro Obreiros da Vida Eterna (http://www.youtube.com/watch?v=NjEJVqPAeoc) e também de um centro espírita (que não conheço, mas que vale visitar o site): http://casaespiritaeuripedesbarsanulfo.wordpress.com/evangelizacao-pratica/.

Por hoje é isso. Até a próxima!