Parte Segunda: Do Mundo Espírita ou Mundo dos Espíritos - Capítulo 4: Da Pluralidade das Existências
Começando o post de hoje com uma frase do poeta e escritor português Fernando Pessoa,(13/Junho/1888 a 30/Novembro/1935):
Esse pensamento faz mesmo a gente refletir sobre as questões desse capítulo. O Fernando Pessoa que me desculpe, mas se trocarmos a palavra 'temperamento' por 'espírito', ela faz todo o sentido ao lermos as respostas à questão 207 de O Livro dos Espíritos.
E também temos o comentário de Emmanuel, que por meio de perguntas nos induz a pensar sobre os complicados conceitos das leis e responsabilidades da reencarnação.
Aliás, a responsabilidade dos pais na educação dos filhos é grande, como alerta Geraldo Goulart no artigo abaixo, publicado pela revista Reformador
Sobre esse tema, da educação dos filhos, vou fazer aqui um parêntesis, porque acredito ser esse assunto de extrema importância nos dias em que vivemos. Na Revista Espírita, de Fevereiro de 1864, Alan Kardec relata suas observações a anota suas considerações sobre um fato presenciado por ele. Esse relato está sob o título "Primeiras Lições de Moral da Infância" (p. 59 a p. 62). Aqui vou colocar apenas a parte que nos interessa e faz referências ao estudos de hoje, mas o texto inteiro está disponível no site da FEB (clique aqui para ler o texto inteiro da Revista Espírita, edição de fevereiro de 1864):
"De todas as chagas morais da sociedade, o egoísmo parece a mais difícil de extirpar. Com efeito, ela o é tanto mais quanto mais alimentada pelos mesmos hábitos da educação. Tem-se a impressão que, desde o berço, a gente se esforça para excitar certas paixões que, mais tarde, se tornam uma segunda natureza, e nos admiramos dos vícios da sociedade, quando as crianças os sugam com o leite. Eis um exemplo que, como cada um pode julgar, pertence mais à regra do que à exceção.
Numa família de nosso conhecimento há uma menina de quatro a cinco anos, de rara inteligência, mas que tem os pequenos defeitos das crianças mimadas, ou seja, é um pouco caprichosa, chorona, teimosa, e nem sempre agradece quando lhe dão alguma coisa, o que os pais levam a peito corrigir, porque, fora desses pequenos defeitos, segundo eles, ela tem um coração de ouro, expressão consagrada. Vejamos como eles agem para lhe tirar essas pequenas manchas e conservar o ouro em sua pureza.
Certo dia trouxeram um doce à criança e, como de costume, lhe disseram: “Tu o comerás, se fores ajuizada.” Primeira lição de gulodice. Quantas vezes, à mesa, não acontece dizerem a uma criança que não comerá tal guloseima se chorar. Dizem: “Faze isto ou faze aquilo e terás creme”, ou qualquer outra coisa que lhe apeteça; e a criança é constrangida, não pela razão, mas tendo em vista a satisfação de um desejo sensual que incentivam.
[...]
Como não levou em consideração a ameaça, sabendo por experiência que raramente a executavam, desta vez os pais foram mais firmes, pois compreenderam a necessidade de dominar esse pequeno caráter, e não esperar que a idade lhe tivesse feito adquirir um mau hábito. Diziam que é preciso formar as crianças desde cedo, máxima muita sábia e, para a pôr em prática, eis o que fizeram: “Eu te prometo – disse a mãe – que se não obedeceres, amanhã cedo darei o teu bolo à primeira criança pobre que passar.”
Dito e feito. Desta vez não cederam e lhe deram uma boa lição. Assim, no dia seguinte de manhã, tendo sido avistada uma pequena mendiga na rua, fizeram-na entrar, obrigaram a filha a toma-la pela mão e ela mesma lhe dar o seu bolo. Acerca disto elogiaram a sua docilidade. Moralidade: a filha disse: Se eu soubesse disto teria tido pressa em comer o bolo ontem.” E todos aplaudiram esta resposta espirituosa. Com efeito, a criança tinha recebido uma forte lição, mas lição de puro egoísmo, da qual não deixará de aproveitar outra vez, pois agora sabe o que custa a generosidade forçada.
Resta saber que frutos dará mais tarde esta semente, quando, com mais idade, a criança fizer aplicação dessa moral em coisas mais sérias que um bolo. Sabem-se todos os pensamentos que este único fato pode ter feito germinar nessa cabecinha? Depois disto, como querem que uma criança não seja egoísta quando, em vez de nela despertar o prazer de dar e de lhe representar a felicidade de quem recebe, impõe-lhe um sacrifício como punição? Não é inspirar aversão ao ato de dar e àqueles que têm necessidade?
[...]
Assim, por pouco que aí se ache o germe das más paixões, o que é o caso mais comum, considerando-se a natureza da maioria dos Espíritos que encarnam na Terra, não pode senão desenvolver-se sob tais influências, ao passo que seria preciso espreitar-lhe os menores traços para os
abafar. Sem dúvida a falta é dos pais; mas, é bom dizer, muitas vezes estes pecam mais por ignorância do que por má-vontade. Em muitos há, incontestavelmente, uma censurável despreocupação, mas em outros a intenção é boa, é o remédio que nada vale, ou que é mal aplicado.
Sendo os primeiros médicos da alma de seus filhos, deveriam ser instruídos, não só de seus deveres, mas dos meios de os cumprir."
Mas, voltando às questões, no livro "Astronautas do além", psicografado por Chico Xavier, há comentários de Emmanuel e de J. Herculano Pires sobre as perguntas 209 e 210. Abaixo, o texto ditado por Emmanuel:
(Emmanuel)
O parente que se te instalou no caminho por obstáculo
dificilmente transponível…
Abençoa-o e ampara-o, quanto puderes.
As leis de causa e efeito, tanto quanto os princípios de
afinidade, não funcionam sem razão.
Observa.
O tempo segue rápido. Criaturas que viste na infância do
corpo físico, quase que de improviso se transformaram e renteiam contigo nos
caminhos da madureza.
Acontecimentos que rearticulas, a cores vivas, na memória,
mostram a idade de muitos lustros.
Assim, no curso do tempo, as existências se intercambiam umas
com as outras.
Os companheiros do passado voltam a nós, reclamando o
trabalho ou a pacificação, o reajuste ou a assistência que lhes devemos.
Esse coração magoado e sofredor que nos compartilha a estrada
do cotidiano na Terra é invariavelmente aquele mesmo espírito que nos fez o
credor de maior ternura e mais ampla abnegação.
O filho rebelde, junto do qual te surpreendes hoje, é
o irmão a quem prejudicaste ontem, com irreflexões que o atiraram para a
teimosia ou para as sugestões de vingança;
a filha menos submissa de agora é a jovem de antigamente em
cujo sentimento plantaste desespero e revolta;
o pai enigmático dos dias que correm é o companheiro que
escravizaste aos próprios caprichos e de quem, no pretérito, comandavas as
horas com violência e tirania;
a genitora dominante é a irmã de outrora que tratavas sob os
pés;
o familiar portador de inquietação e de sofrimento é sempre a
mesma pessoa que se desequilibrou à conta de nossos erros, em épocas transatas,
e que exige reabilitação ao preço de nosso cuidado e devotamento, nas áreas da
existência física.
É verdade que isso nem sempre ocorre na pauta de
débitos nossos, ante a justiça. O amor, onde surja, sabe sempre trazer a si
aqueles a quem se consagra, convertendo empeços e provas em esperanças e
alegrias, à feição de Jesus que nos ama desde séculos imemoriais muito antes
que o conhecêssemos, e nos sustenta a todos, na Terra, sem dívida alguma para
conosco. Ainda assim, recordemos: todo parente difícil é trabalho de amor ou
rearmonização que a Divina Providência nos confia, a fim de que tenhamos o privilégio
de transfigurá-lo em degrau de serviço e de luz, no rumo de nossa própria
sublimação.
Sobre as questões referentes a espíritos unidos, que nascem como irmãos gêmeos, lembrei de um livro que li há muito tempo, de um aprendizado muito grande, mas de uma tragédia muito comovedora. O livro é Párias em Redenção, ditado pelo espírito Victor Hugo ao médium Divaldo Franco. A obra vale muito ser lida, mas no nosso corre-corre diário, às vezes fica difícil. Pensando nisso, deixo aqui uma palestra, do orador Aguinaldo Paula Vasconcelos, que resume a obra. Disponível no YouTube, são 50 minutos que relatam três existências de um grupo espiritual que se liga pelo ódio e pelos crimes e que sofre uma expiação final para aprenderem a se amar. Imperdível!!!
Uma ótima semana a todos! Até mais.
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