quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Sorte das crianças depois da morte

Parte Segunda: Do Mundo Espírita ou Mundo dos Espíritos - Capítulo 4: Da Pluralidade das Existências


Um dos casos mais completos que já li, abordando os temas desencarnação de crianças e leis de Causa e Efeito, está no livro Entre a Terra e o Céu, de autoria espiritual de André Luiz, com o médium Chico Xavier. Escolhi apenas dois trechos que exemplificam o nosso estudo de hoje de O Livro dos Espíritos. O primeiro deles mostra um local para onde são encaminhados os espíritos que deixaram o planeta ainda crianças, além da situação difícil de um dos personagens do livro:



O firmamento parecia responder às sugestões da palestra admirável. 
Bandos de aves mansas pousavam na ramaria que brilhava não longe de nós. 
O Sol apresentava perceptíveis raios diferentes, até agora desconhecidos à apreciação comum na Terra, provocando indefiníveis combinações de cor e luz. 
Por abençoada e colorida colmeia de amor, harmonioso casario surgiu ao nosso olhar. 
Centenas de gárrulas crianças brincavam entre fontes e flores de maravilhoso jardim. 



Clarêncio movimentou a destra, indicando-nos o quadro sublime a desdobrar-se sob a nossa vista. 

Doce melodia que enorme conjunto de meninos acompanhava, cantando um hino delicado de exaltação do amor materno, vibrava no ar. Aqui e ali, sob tufos de vegetação verde-clara, muitas senhoras sustentavam lindas crianças nos braços.

— É o Lar da Bênção — informou o instrutor, satisfeito. — Nesta hora, muitas irmãs da Terra chegam em visita a filhinhos desencarnados. Temos aqui importante colônia educativa, misto de escola de mães e domicílio dos pequeninos que regressam da esfera carnal. 

O Ministro, porém, interrompeu-se, de improviso. Nossas companheiras pareciam agora tomadas de jubilosa aflição. Vimo-las desgarrar, de inopino, qual se fossem atraídas por forças irresistíveis, precipitando-se para os anjinhos que cantarolavam alegremente. 
Enquanto a que nos era menos conhecida enlaçava louro petiz, com infinito contentamento a expressar-se em lágrimas, dona Antonina abraçou um pequeno de formoso semblante, gritando, feliz: 

— Marcos! Marcos!... 
— Mãezinha! Mãezinha!... — respondeu a criança, colando-se-lhe ao peito. 

Clarêncio fez sinal para as irmãs vigilantes, que se responsabilizavam pelos entretenimentos no parque, como a solicitar-lhes proteção e carinho para as nossas associadas de excursão, e disse-nos, em seguida: 

— O pequeno Júlio não se encontra no grupo. Ainda sofre anormalidades que lhe não permitem o convívio com as crianças felizes. Acha-se no lar da irmã Blandina. Rumemos para lá. 
Em poucos minutos, chegávamos diante de pequenino castelo muito alvo, em que se destacavam as ogivas azuis, coroadas de trepadeiras em flor. Atravessamos extenso jardim, embalsamado de aroma. Rosas opalinas, ignoradas na Terra, de mistura com outras flores, desabrochavam profusamente. 

A irmã Blandina recebeu-nos sorridente, apresentando-nos uma senhora simpática que lhe fora avozinha no mundo. Mariana, nossa nova amiga, cumprimentou-nos, bondosa. Findas as saudações usuais, Clarêncio tocou, direto, no assunto. Desejávamos avistar o pequeno Júlio, que havia desencarnado por afogamento. Blandina, que em plena juvenilidade trazia nos olhos os característicos de sublime madureza de espírito, respondeu gentilmente: 

— Ah! com muito prazer! 

E, encaminhando-nos a iluminada peça, ornamentada de róseos enfeites, onde um menino repousava
num leito muito branco, explicou, sem afetação: 

— Nosso Júlio, até hoje, ainda não se refez completamente. Ainda grita sob pesadelos inquietantes, como se estivesse a sofrer sob as águas. Chama pelo pai constantemente, apesar de parecer mais receptivo ao nosso carinho. Insiste pela volta a casa, todos os dias. 

Acercamo-nos do berço largo em que descansava. O menino lançou-nos um olhar de atormentada desconfiança, mas, contido pela ternura da irmã que o assistia, permaneceu mudo e impassível. 
— Ainda não se mostrou em condições de partilhar os estudos com os outros? — perguntou o Ministro, interessado. 

— Não — informou a interpelada, solícita —, aliás, os nossos benfeitores Augusto e Cornélio, que nos amparam frequentemente, são de parecer que ele não conseguirá adquirir aqui qualquer melhora real, antes da reencarnação que o aguarda. Traz a mente desorganizada por longa indisciplina.
(Entre a Terra e o Céu, pág. 70 a 73. Edição FEB, 2005)

A seguir, são prestados alguns esclarecimentos sobre as leis de Causa e Efeito, a que todos nós estamos sujeitos:

— Antigamente, na Terra, conforme a teologia clássica, supúnhamos que os inocentes, depois da morte, permaneciam recolhidos ao descanso do limbo, sem a glória do Céu e sem o tormento do inferno, e, nos últimos tempos, com as novas concepções do Espiritualismo, acreditávamos que o menino desencarnado retomasse, de imediato, a sua personalidade de adulto... 

- Em muitas situações, é o que acontece —esclareceu Blandina, afetuosa —; quando o Espírito já alcançou elevada classe evolutiva, assumindo o comando mental de si mesmo, adquire o poder de facilmente desprender-se das imposições da forma, superando as dificuldades da desencarnação prematura. Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a respectiva apresentação que lhes era costumeira.
 Contudo, para a grande maioria das crianças que desencarnam, o caminho não é o mesmo. Almas ainda encarceradas no automatismo inconsciente, acham-se relativamente longe do auto-governo. Jazem conduzidas pela Natureza, à maneira das criancinhas no colo maternal. Não sabem desatar os laços que as aprisionam aos rígidos princípios que orientam o mundo das formas e, por isso, exigem tempo para se renovarem no justo desenvolvimento. É por esse motivo que não podemos prescindir dos períodos de recuperação para quem se afasta do veículo físico, na fase infantil, de vez que, depois do conflito biológico da reencarnação ou da desencarnação, para quantos se acham nos primeiros degraus da conquista de poder mental, o tempo deve funcionar como elemento indispensável de restauração. E a variação desse tempo dependerá da aplicação pessoal do aprendiz à aquisição de luz interior, através do próprio aperfeiçoamento moral. 



Encantávamos as exposições claras e simples de nossa interlocutora, cuja palavra tangia com tanta felicidade graves problemas da vida.

Em suas fórmulas verbais singelas e acessíveis, penetrávamos inquietantes enigmas da puericultura.


Blandina sabia associar a compreensão e a graça, instruindo-nos com 
discernimento.

Comovido, diante das anotações que lhe definiam a valiosa posição cultural, ponderei: 



— Usando semelhantes apontamentos, podemos entender com mais segurança, os processos dolorosos das enfermidades congênitas e das moléstias insidiosas que assaltam a meninice no mundo. Sempre fui possuído de aflitivo assombro, à frente
do mongolismo e da epilepsia, da encefalite letárgica e da meningite, da lepra e do câncer, na tenra organização infantil...

— E que dizer dos desastres irremediáveis —considerou Hilário, com emoção —, dos desastres que arrebatam adoráveis flores do lar, deixando inconsoláveis pais e mães? Por vezes numerosas, procurei resposta às terríveis inquirições que nos atormentam, perante corpinhos dilacerados, nos hospitais de sangue, sem conseguir ausentar-me do escuro labirinto. 

— Sim — esclareceu a enfermeira, bondosa -, as reparações nos martirizam na carne, mas, sem elas, não atingiríamos o próprio reajustamento. 



— Cada qual de nós renasce na Terra — apreciou o Ministro — a exprimir na matéria densa o patrimônio de bens ou males que incorporamos aos tecidos sutis da alma. A patogenia, na essência, envolve estudos que remontam ao corpo espiritual, para que não seja um quadro de conclusões falhas ou de todo 
irreais. Voltando à Terra, atraímos os acontecimentos agradáveis ou desagradáveis, segundo os títulos de trabalho que já conquistamos ou conforme as nossas necessidades de redenção.

Bem humorado, acentuou: 
— A carne, de certo modo, em muitas circunstâncias não é apenas um vaso divino para o crescimento de nossas potencialidades, mas também uma espécie de carvão milagroso, absorvendo-nos os tóxicos e resíduos de sombra que trazemos no corpo substancial.

(Entre a Terra e o Céu, pág. 83 a 86. Edição FEB, 2005)

O escritor espírita Richard Simonetti, em artigo da revista Reformador, de Agosto de 2009, intitulado Mortes Prematuras, também comenta sobre o livro Entre a Terra e o Céu:




Apesar de usar o mesmo título (Mortes prematuras), o artigo abaixo, de Altamir Cunha - também publicado na revista Reformador, mas em novembro de 2005 - faz comentários específicos sobre a questão 199, de O Livro dos Espíritos (o texto está em duas partes... não consegui juntar!)


Continua abaixo:

Para encerrar, achei uma mensagem que me fez pensar no que estamos estando. Não no sentido das crianças no plano espiritual, mas as que renascem. Na verdade é uma mensagem para pais ou responsáveis pela educação das crianças. Afinal, devemos lembrar que são espíritos imortais, que precisam da nossa ajuda para errar menos e acertar mais! 


Espero que seja motivo de reflexão e aprendizado, assim como foi para mim. Até a próxima!




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